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ENTREVISTA | Geison Werner, publicitário catarinense que atua na Y&R da Argentina
20 de Janeiro de 2016

ENTREVISTA | Geison Werner, publicitário catarinense que atua na Y&R da Argentina

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Geison Werner é um jovem publicitário com várias características necessárias à um profissional bem sucedido no setor: curiosidade, inquietude, inconformismo, estudioso, ousado, bom ouvinte, exigente e destemido. Foi assim que Wander Levy falou de Geison quando nos sugeriu uma matéria com ele. Decidimos falar com ele e propusemos duas coisas: uma entrevista, que você vai ler agora. A outra você descobrirá lendo-a até o final.
 

AcontecendoAqui – Fale sobre sua formação e trajetória profissional até sua mudança para a Argentina

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Geison Werner – Sou graduado em Publicidade e Propaganda na Estácio de Sá, em Florianópolis. Atualmente estou na reta final do curso de Criação da Miami Ad School em Buenos Aires que vai até março. Eu também iniciei o curso de Letras Português e Literatura Brasileira na UFSC, mas não continuei porque comecei a trabalhar em agência. Comecei como assistente de arte em 2009, fazendo convites de formatura, em São José. A Ícone Design que também era a .R Comunicação.
Posso dizer que decidi ser redator fazendo tratamento de imagens no Photoshop. De vez em quando surgia algo de rádio, tv ou algum texto para criar e eu me metia a fazer. Depois fui convidado para fazer um estágio na Mercado (atual MDO), ainda quando era na Av Rio Branco, com o Diretor de Criação Sandro Pinto. Fiquei na Mercado por quase 2 anos. Depois surgiu a oportunidade de trabalhar no marketing do Grupo CIMED. Foi uma ótima experiência trabalhar dentro de uma marca grande, com mais de 100 produtos, uma estrutura empresarial sólida e com uma força de vendas que eu jamais tinha visto de perto. Mas senti na pele o que Eugênio Mohallen escreveu: ¨Propaganda, não tente fazer isso em house¨. Voltei para a agência Mercado, dessa vez com um novo desafio: trabalhar em planejamento. Foi interessante, mas de vez em quando eu me pegava pensando em criação. Voltei para o meu lugar: a redação publicitária, dessa vez na BZZ, com a Katiany Pinho. Perto de completar um ano na BZZ, conheci o Wander Levy, que era diretor de criação na área de Promo da Propague. Passei meu portfolio para ele que mostrou para o Rogério Alves, que era o DGC da Propague na época. Um dia ele me ligou e eu gelei, porque trabalhar com ele era uma das minhas metas profissionais desde a faculdade. Acabei indo pra Propague. Bom, para isso não virar uma biografia, vou engatar a quinta: Passei na BZZ outra vez mais, trabalhei na campanha política pela OneWG e pela BZZ também. Depois disso me mandei pra Buenos Aires.

 

AcontecendoAqui – O que te motivou a mudar para Buenos Aires?

Geison Werner – Eu queria estudar algo, mas não sabia o que nem onde. Comecei a pesquisar escolas de criatividade, criação, arte, música, intercâmbios, etc. Sempre tive curiosidade sobre a Miami Ad School. Vi que tinha em São Paulo e em Buenos Aires. Vim sem planejar muito.

 

AcontecendoAqui – Quais prêmios você tem no seu currículo?

Geison Werner – Meus prêmios são: Central de Outdoor; ANJ; El Ojo (Shortlist); Clio Awards 2015 (Buenos Aires); Prêmio OBRAR (Buenos Aires); Top Dog (Miami Ad School Buenos Aires). La Oreja (8 indicações – 1 oro 1 bronze).

 

AcontecendoAqui –  Como você vem lidando com o idioma sendo um redator publicitário?

Geison Werner – No início eu apanhei bastante. É mais difícil ser entendido do que entender. Me ajudou o fato de ter vivido em Florianópolis e treinado o portunhol nas temporadas. Mas nada como leitura de jornal, revista, livros e idas a bares, cafés, com bastante papo furado na rua. É o que realmente traz a fluência da língua. Não considero meu espanhol perfeito (texto e fala), mas antes de trabalhar com textos eu trabalho com ideias. E tento aproveitar esse conflito cultural e linguístico para ser mais criativo, porque tendo um ângulo de visão menos argentino, morando na Argentina, creio que podem surgir conexões de ideias interessantes.

 

AcontecendoAqui –  Você já mencionou as agências onde trabalhou. Com quem trabalhou no Brasil?

Geison Werner – Vou tentar lembrar alguns nomes. Certeza que eu vou esquecer alguém. Desculpas, desde já. Sandro Pinto, Bruno Boesche, Daniel Martins, Ricardo Barbosa Lima, Marco Togo, Katiany Pinho, Rogério Alves, Giba, Paulo Chefaly, Leo Zardo, Ricardo Alemão, Leandro Tuxo, Wander Levy, Tátylla Mendes, Jason Braun, Marcelo Vieira, Vito Vailati, Leandro Chaves, Adilson Nocetti, Sergio Caldara. Ou seja, só os feras.

 

AcontecendoAqui – Como é a estrutura de criação na Y&R onde você está hoje?

Geison Werner – Aqui sempre pensam que eu sou Diretor de Arte e minha dupla Redatora. Porque brasileiros têm boa fama de serem bons diretores de arte aqui. A cultura de trabalhar em dupla fixa é bem mais forte. A putaria criativa de que todo mundo trabalha com todo mundo não é tão assim aqui. Acho isso positivo, mas não sou radical. Pode ser interessante variar as vezes.

Na Y&R Buenos Aires tem cerca de 30 criativos. 4 são Diretores Criativos, 2 são DGCs. Para apresentar alguma ideia, geralmente estão todos. É difícil passar na peneira.

 

AcontecendoAqui – Fale sobre sua dupla e a maneira como vocês trabalham

Geison Werner –  Minha dupla é Gabriela Hidalgo. Uma (ex)engenheira civil que conheci na Miami Ad School. Começamos a fazer os trabalhos do curso juntos e formamos dupla faz 1 ano e 8 meses. Geralmente as duplas são fixas e vão junto. Eu e a Gaby fomos juntos para a TBWA e agora estamos na Y&R. Fomos convidados pelo DGC, Fernando Tchechenistky, que também é professor na Miami Ad School.

Normalmente fazemos um brainstorm antes de começar a pesquisar qualquer coisa. Depois vamos pesquisar na internet cada uma por si. Daí nos juntamos mais focados no problema do brief. E antes de mostrar qualquer ideia para os Diretores de Criação, fazemos uma busca a fundo na internet para não correr o risco de apresentar algo que já foi feito antes.

AcontecendoAqui – Desde quando você está na Argentina e qual a trajetória já percorrida?

Geison Werner –  Vim a Buenos Aires em março de 2014. O curso da Miami Ad School dura 2 anos divididos em 8 trimestres no total. Trabalhei como roteirista de comerciais no grupo Discovery (Channel, Home and Health, Kids, Turbo, TLC, ID e Disney Channel). Criei para Brasil, Argentina e México. Depois eu e a Gabriela fomos para a TBWA\Buenos Aires. Um professor nos indicou. Lá fizemos alguns trabalhos interessantes para Nissan, Shopping Unicenter, TCI, etc. Agora estamos na Y&R aqui em Buenos Aires. Mais de 150 pessoas trabalham aqui. São 5 andares de agência. 6 diretores de Criação e dois DGCs.

 

AcontecendoAqui – Quais as semelhanças e diferenças entre a publicidade dos dois países?

Geison Werner – O Argentino é mais exagerado. Para rir, para usar as palavras, para xingar, para elogiar, para descrever. Logo quando cheguei, perguntei a alguém na rua se estava próximo de um endereço que buscava. Uma mulher de uns 50 anos me respondeu: ¨-ME MATASTE!¨ Eu levei um susto, mas ela só queria dizer ¨não sei¨. Essa é uma característica que dá mais liberdade à criatividade, por exemplo. As pessoas são mais irônicas, mais sarcásticas, se ofendem menos, são mais desbocados. Eu diria que estão menos chatos e mais tolerantes do que no Brasil. O nível de produção aqui é surpreendente. Muitas das maiores campanhas brasileiras são filmadas por aqui. A quantidade de boas produtoras e bons diretores é imensa.

Em termos de salários é bastante parecido. Mas, como no Brasil, você vai aumentando o salário conforme vai mostrando trabalho. E a dança das cadeiras é igualzinha. Uma coisa que eu achei interessante aqui é a parte digital das campanhas. Muitas agências são full service e assinam a parte digital porque realmente possuem a expertise e a estrutura para atender. Mas também se faz parceria com outras agências. É como se a OneWG fizesse parceria com a D/Araújo para fazer a parte digital de uma campanha, por exemplo.

 

AcontecendoAqui – Dê uma ideia do mercado argentino; Qual o tamanho, em quais cidades estão as maiores agências, presença das agências globais e locais etc.

Geison Werner – Eles têm uma clara invejinha de São Paulo. Bom, acho que qualquer país tem, Mas eles, por serem argentinos, nutrem um pouco mais essa rivalidade. As principais agências, claro, estão em Buenos Aires. Uma vez por ano acontece o Face to Face, um evento que leva estudantes e novos talentos às agências para mostrar o portfolio aos Diretores Criativos. Participei neste ano visitando as agências Grey, David, KEPEL & MATA, La Comunidad, Leo Burnet, Mercado McCann, Publicis, R/GA e Y&R. São agências médias e grandes. Aqui segue o link para vocês verem como foi o último evento.
Quando participei, me perguntei se funcionaria algo assim em Floripa. Seria interessante, mas isso se tivesse estudante interessado em estagiar, o que em Floripa é bem, BEM difícil.

 

AcontecendoAqui – O que imaginas para o futuro da tua profissão?

Geison Werner – Acho que minha profissão já é um pouco do futuro. Mas em moldes que já saíram de linha. Nunca vão substituir publicitários por robôs ou computadores. Se bem que hoje eu faço um site lindo sem um web designer. Já levantei bandeira a favor do trabalho remoto, cada um fazendo sua parte em casa. O que é completamente possível em alguns departamentos. Mas para criar, nada melhor que o olho no olho real. Contato real. Na Miami Ad School fiz 3 campanhas à distância com planners do Peru. Saíram bons trabalhos, mas fiquei com a sensação de que podia ter sido melhor. Não quer dizer que não funcione. Quero dizer que uma situação (videoconferência) não substitui a outra (contato real) totalmente. Talvez o futuro esteja mais na área de produção e de tecnologia, o que vai agilizar – e diminuir – os prazos e adiantar o produto final que é a campanha. Acredito que não vamos mais precisar esperar tanto tempo para a produção o que vai evitar o que geralmente acontece: você vê o comercial produzido depois de trocar 2 vezes de agência.

 

AcontecendoAqui – E a última pergunta é um convite para você ser um colunista do AcontecendoAqui trazendo o bom da propaganda argentina a cada 15 dias.

Geison Werner – Vai ser bem interessante. Não sou jornalista e não sei ser muito imparcial, mas tenho certeza que vou trazer bons assuntos, comerciais e campanhas feitas aqui. Quero entrevistar alguns criativos também e quem sabe visitar algum set de produção. Logo mais teremos novidades. Obrigado Jailson pelo convite. E abraço a todos os amigos queridos de Floripa. Estou com muitas saudades. Un bezo. Nos vemos pronto. ¡Hasta luego!

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