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Rio Content Market: conteúdo como mercadoria internacional
05 de Março de 2015

Rio Content Market: conteúdo como mercadoria internacional

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Por Carlo Manfroi 05 de Março de 2015 | Atualizado 03 de Dezembro de 2021

Books and Films Participei do Rio Content Market, o maior evento de conteúdo audiovisual e mídias digitais da América Latina. Por ser um evento internacional, tive a oportunidade de acompanhar os rumos e tendências da produção de conteúdo no mundo. O conteúdo, como mercadoria, rompeu fronteiras. As séries famosas fazem sucesso mundialmente. Veja que não usei a expressão séries de TV, justamente por que talvez você assista uma delas na TV, mas provavelmente não. O branded content não é novidade, apesar de hoje ser ovacionado como a oitava maravilha do mundo. A sétima arte sempre usou e abusou do recurso, tanto para viabilizar suas produções como nas vezes em que o filme foi concebido buscando a venda de produtos ou ideias. Na mega arena do Rio Content Market montada no Windsor da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, grandes empresas e canais distribuidores de conteúdo, como FOX, Sony, Globo, HBO, Discovery – entre muitos outros – se reuniram com os agentes e produtoras do mercado nacional e internacional. O evento funciona como um grande balcão de negócios, onde quem quer comprar encontra quem está produzindo algo novo e precisa ser lançado. Além disso, tive a oportunidade de assistir a boas palestras, pitchs e fóruns com conteúdo aprofundado, original e relevante. Estive representando a agência Qualé Digital e também o Carlo Manfroi Story Studio, especializado na produção de conteúdo em livros e multiplataforma. Acompanhei a mesa de debates entre Flavio Moura (Cia das Letras), Liz Calder (Bloomsbury Publishing) e Vivian Wyler (Rocco), com moderação do jornalista e crítico de cinema Pedro Butcher. Vivian Wyler começou sua apresentação focando nas séries de TV. Aliás, as séries foram o grande centro das discussões em todo o evento. Wyler destacou o pensamento da escritora francesa Virginie Despentes, do Magazine Littéraire: “As séries nos farão perder muito mais leitores do que o cinema, porque elas ocupam bem o nosso tempo e satisfazem a função narrativa. O Balzac do século XXI será um autor de gênio, como o da série The Wire”. Segundo Vivian Wyler, as séries estão sendo encaradas como a narrativa substituta, tanto para a literatura quanto para o cinema. Em contraponto, Flavio Moura, editor da Companhia das Letras, ressaltou a relação com as produtoras de cinema e TV como grande indutora de viabilidade de projetos editoriais. Ou seja: não se trata de perder ou ganhar leitores e espectadores, e sim de amplificar a narrativa em outros meios. O editor também apresentou a estrutura de produção para grandes narrativas, como a biografia de Getúlio Vargas (escrita em cinco anos), envolvendo pesquisa, produção e dedicação exclusiva de um grande autor – Lira Neto – voltado exclusivamente para o projeto. O tie-in foi abordado como recurso necessário tanto por Moura quanto por Wyler, mas enfatizado que nem sempre é garantia de sucesso. Com relação à transformação do livro para a TV ou cinema, um dos grandes pontos da questão não deixa de ser frustrante: cerca de 80% dos direitos comprados pelas produtoras não são produzidos. Quer dizer: as empresas compram por tempo determinado um título, e durante esse período elas pensam se vão produzir ou não. Nesse ínterim, ninguém pode produzir. Os autores e editores agonizam, esperando, mas na maioria das vezes os direitos são devolvidos para os mesmos sem uma única hora de produção de conteúdo em vídeo. Ainda sobre tie-in, a editora britânica Liz Calder, publisher de diversos sucessos, entre eles o mundialmente aclamado O Paciente Inglês, defendeu a adaptação de livro para filme com maior liberdade para os artistas. O melhor filme não é aquele que é mais fiel ao livro, e sim o que mantém as melhores formas de narrativas, mesmo que para isso precise se distanciar da linguagem original. Calder é a responsável por publicar muitos autores brasileiros e outros tantos estrangeiros na Inglaterra. Neste rico painel, independente das experiências e realizações individuais, ficou uma sensação em comum: apesar do mercado editorial não entregar números vultosos como o audiovisual, ele é cada vez mais valorizado como a essência para um bom argumento. A boa história ainda é o ponto de partida para uma grande produção audiovisual.  

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