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ENTREVISTA com a jornalista Simone Bobsin, que assina a sétima edição do ArqSC
09 de Março de 2015

ENTREVISTA com a jornalista Simone Bobsin, que assina a sétima edição do ArqSC

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Simone BobsinA sétima edição do anuário ArqSC, que será lançada nesta próxima semana, no dia 10 de março, na Zuhause, em Florianópolis, chega às bancas com mais conteúdo e programação visual renovada. Com direção editorial da jornalista Simone Bobsin, a publicação é referência em projetos assinados por escritórios de Santa Catarina e busca ampliar o debate e educar o olhar para a arquitetura catarinense. Artigos, entrevistas e matérias especiais nas áreas de arte, design, comportamento, economia criativa e processo criativo ganham espaço na revista. “Arquitetura envolve desde o interior de nossas casas até o país em que vivemos e que estamos construindo”, defende Simone. Para o portal Acontecendo Aqui, a jornalista fala sobre sua trajetória, os desafios da arquitetura no estado e as novidades desta edição.

 

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AcontecendoAqui – Quando e como começou seu envolvimento com a área de arquitetura em Santa Catarina?

Simone Bobsin – Deixei a redação do DC logo após nascer o Arthur, meu primeiro filho. Queria ter mais tempo livre. Fiz alguns freelas, trabalhei como jornalista na associação profissional da Eletrosul, e em seguida a jornalista Sibyla Loureiro me convidou para escrever para um suplemento novo chamado Materiais de Construção, no jornal Diário Catarinense. Topei e comecei a fazer mensalmente freela para a redação do departamento comercial, um setor novo na empresa, que editava cadernos terceirizados. Depois do primeiro número, o caderno passou a se chamar Casa Nova, o primeiro suplemento de arquitetura e decoração do Grupo RBS, que completou 20 anos em 2014. Esse é o tempo que atuo na área e a idade do meu filho mais velho.  

 

AAqui – Como observa o desenvolvimento da arquitetura no Estado até hoje?

S. B. – Com avanços e retrocessos, movimento comum a outras áreas. Acompanhei o surgimento das primeiras lojas de design e decoração, nos anos 90. Mas antes disso, em Florianópolis, principalmente, já havia endereços ligados ao setor. Há pelo menos 20 anos a arquitetura era considerada para poucos, e o que se percebe é a democratização desse serviço, que é fundamental para construirmos uma cidade com qualidade e identidade arquitetônica e urbana. Arquitetura envolve desde o interior de nossas casas até o país em que vivemos e que estamos construindo. É nesse sentido que me refiro aos avanços e retrocessos na maneira de enxergar e pensar a arquitetura. É bom lembrar que essa disciplina sempre foi de vanguarda e inclusiva. Arquitetura é vida no seu sentido mais amplo.  

 

AAqui – Como considera a questão de preservação do acervo arquitetônico do Estado? Iniciativas e projetos que precisam valorizar o traço catarinense?

S. B. – Preservar tem a ver com consciência, informação e cultura, e ainda com o legado que queremos deixar. Penso que falta muito para avançarmos em relação à preservação do patrimônio – poder público e cidadãos. Minha principal crítica tem a ver com a valorização da história e da cultura em outros países e o desprezo, muitas vezes, pela nossa própria história. Falta olharmos para a beleza arquitetônica das nossas cidades, e não falo somente de prédios históricos, mas da arquitetura recente como os exemplares modernistas que estão sendo colocados abaixo em Florianópolis. Preservar o patrimônio é fundamental.  

 

AAqui – Qual a identidade da arquitetura catarinense?

S. B. – A arquitetura catarinense não tem uma única identidade. Somos um estado muito diversificado e cada região tem a sua própria referência e originalidade. No entanto, acredito que a arquitetura modernista e a “escola paulista”, sólidas referências de arquitetura, deixaram um legado expressivo em construções como como Ceisa Center, prédio das Diretorias, Clube Doze de Agosto, prédio da antiga Telesc, Rodoviária de Florianópolis, edifício Normandie, em Coqueiros, e Mussi, no Centro, antiga casa Zipser, na rua Barão de Batovi, de 1959, toda original, com projeto assinado pelo arquiteto austríaco Hans Broos. Um dia passando pela rua Barão do Batovi, vi que a casa tinha sido demolida e o terreno estava sendo limpo, chorei…  

 

AAqui – E sobre o entendimento da arquitetura pelo consumidor final, estamos num bom caminho de diálogo ou é necessário estreitar mais esta relação? Ainda mais com a criação do Cau – Conselho de Arquitetura e Urbanismo – e atuação de outras instituições neste objetivo?

S. B. – De um modo geral a arquitetura está mais democrática, com mais pessoas tendo acesso a bons projetos. Porém, ainda é considerada um serviço caro, para poucos. O próprio CAU – Conselho de Arquitetura e Urbanismo – tem trabalhado no sentido de popularizar a arquitetura e criou algumas campanhas informativas, como a “arquitetura e urbanismo para todos”. A caminhada é longa e envolve aspectos relacionados à valorização da arquitetura pela própria sociedade, poder público e união da categoria.  

 

AAqui – Qual a ideia da criação do anuário catarinense, hoje chamado ArqSC, já na sétima edição?

S. B. – A ideia principal foi valorizar a arquitetura catarinense a partir do mapeamento de bons projetos e colocar a publicação à venda nas principais bancas e livrarias do estado. Queremos ser referência e compartilhar ideais que merecem ser espalhadas. Essa é a proposta do anuário, que nasceu há sete anos para também educar o olhar para a produção arquitetônica do estado.  

 

AAqui – Este ano a publicação traz novidades na linha editorial com a inclusão de assuntos relacionados como arte, design, processo criativo e economia criativa. Por que a decisão de ampliar o conteúdo através da abordagem de outras áreas? Considera que o assunto “arquitetura” deve ser tratado de forma mais ampla em conjunto com essas áreas afins? É uma vontade de conversar com mais setores que integram esta cadeia?

S. B. – Uma vez escutei do arquiteto Marcelo Ferraz, do escritório paulista Brasil Arquitetura, que “arquitetura é a vida”. Concordo, porque a arquitetura é feita para as pessoas, sua dimensão é humana e por isso se relaciona com a arte, o design, o urbanismo e as mudanças de comportamento. O anuário precisava apontar essa relação e apresentar artigos trends e conectados com áreas afins. Fui buscar os melhores profissionais para assinar os artigos, além das entrevistas. Temos textos sobre economia criativa de Ana Carla Fonseca e Edna dos Santos Duisenberg, principais nomes da cena brasileira sobre o tema. Nossa homenagem aos 30 anos do Laboratório Brasileiro de Design Industrial vem por meio do artigo do professor e designer Célio Teodorico, profundo conhecedor da história que ajudou a construir. O LBDI foi um marco sem precedentes, com repercussão nos cenários nacional e internacional. Também homenageamos o arquiteto Vilanova Artigas, que completaria 100 anos de nascimento em 2015, com artigo da filha e historiadora Rosa Artigas, e o ícone do jornalismo de arquitetura no Brasil, Vicente Wissenbach. Tem ainda uma entrevista com Charles Watson sobre processo criativo, que quebra mitos e sugere atitudes.  

 

AAqui – Nesta edição a publicação apresenta 40 projetos selecionados pela curadoria. O que buscam mostrar na revista, algum critério específico?

S. B. – Os projetos são em vários campos da arquitetura e mostram exatamente essa diversidade de serviços. A seleção tem como critério principal a qualidade do projeto, onde buscamos mostrar o briefing traçado para o projeto e a solução apontada.  

 

AAqui – A mudança veio de alguma necessidade ou percepção do público leitor?

S. B. – Nos diferenciarmos no mercado editorial, com tantos títulos na banca. O anuário ArqSC, com tiragem de 3 mil exemplares, se reinventou a partir do próprio nome: a capa vem assinada pela artista plástica Celaine Refosco, do reconhecido Instituto Orbitato, e o projeto ganhou novo design gráfico e direção de arte com a equipe da Nuovo Design. Seguiremos ampliando o conteúdo do anuário nas próximas edições, para que seja sempre fonte confiável de consulta, reflexão e divulgação da arquitetura de qualidade.  

 

AAqui – Como o anuário está posicionado no mercado e as estratégias definidas num mercado editorial extremamente competitivo?

S. B. – Nos posicionamos pela qualidade, segmentação – nosso público é o leitor que gosta de arquitetura e da seleção de projetos de escritórios de arquitetura. Essa é a nossa estratégia, além da credibilidade e relacionamento que temos ao longo de tantos anos com as entidades do setor.  

 

AAqui – Como define arquitetura na vida das pessoas? Qual o impacto da arquitetura nas cidades?

S. B. – Arquitetura está em todos os lugares, mesmo que as pessoas não se dêem conta disso, desde o desenho da casa e seu interior, ao prédio e às nossas cidades. Em entrevista ao ArqSC, o jornalista de arquitetura um dos pioneiros no Brasil, Vicente Wissenbach, apontou três fatores necessários para a grande virada na arquitetura e no urbanismo, compartilho sua opinião : “quando for obrigatório a existência de projeto executivo para a licitação das obras; na área privada, quando os arquitetos conquistarem a direção e/ou o acompanhamento da obra, como ocorre na maioria dos países; e quando o estado não mais delegar a função de planejar as cidades e a habitação para os empreiteiros”.
Esta entrevista contou com a colaboração da jornalista Luciana de Moraes

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