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Coluna Inovação | Os argumentos surreais – e inverídicos – para barrar o 5G em Santa Catarina
26 de Julho de 2019

Coluna Inovação | Os argumentos surreais – e inverídicos – para barrar o 5G em Santa Catarina

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Por Fabricio Umpierres Rodrigues 26 de Julho de 2019 | Atualizado 26 de Julho de 2019

 

Parecia apenas uma piada de mau gosto, um meme desses que circula em redes sociais e grupos de whatsApp, mas era algo sério. Na última sexta-feira (19), um projeto de lei (0241.5/2019) de autoria do deputado estadual Marcius Machado (PL) que pretende barrar testes e a instalação da rede de internet 5G em Santa Catarina foi publicada em alguns portais de notícia e causou espanto entre a comunidade de empreendedores de tecnologia, líderes empresariais e até mesmo de setores do poder público que acompanham as novidades do mercado e sabem o que representa essa “nova geração” de conectividade. 

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O projeto de lei ainda era assinado pelo também deputado estadual e empresário do varejo Nilso Berlanda (PR), que nesta semana pediu para retirar seu nome do PL.

A rede 5G, que tem velocidade até 10 vezes superior à 4G, é a base para o avanço de novas tecnologias, especialmente quando se fala em indústria 4.0, internet das coisas, soluções para cidades inteligentes, sem falar no que pode significar ao mercado de mídia e comunicações. Imaginem as soluções para smart cities que estão em desenvolvimento no programa Living Lab, aqui de Florianópolis, barradas no futuro pela proibição de uma rede ultrarrápida. 

Porém, na avaliação do deputado Marcius: 

“Os meios de comunicação vem divulgando apenas as vantagens que as redes sem fios 5G podem trazer em matéria de comunicação e transmissão de dados (…)”

mas…

“de acordo com o renomado médico cardiologista e nutrólogo Dr. Lair Ribeiro, ‘aonde chegar o 5G, acabou a vida’, no qual afirma que testes realizados na Holanda ‘morreram cerca de 500 pássaros em 2 minutos'”

e ainda…

“esta casa (N.E: A Assembleia Legislativa) não pode aceitar que a saúde das pessoas seja prejudicada, bem como a morte de inúmeros animais, em especial irá acabar com as abelhas e de acordo com Albert Einstein ‘se as abelhas desaparecerem da face da terra (SIC), a humanidade terá apenas quatro anos de existência”.

O maior problema desta argumentação é que a história dos testes na Holanda já foi desmentida publicamente, como já saiu na Wired e na plataforma de checagem de informações Snopes). Mas também não passa batido o fato de que não há registro confiável dessa frase do físico Albert Einstein sobre o destino da humanidade em função de abelhas. A não ser neste vídeo duvidoso que está como referência no texto proposto pelo deputado. 

Se esse projeto virar lei, quem fizer testes com o 5G terá que pagar multa de R$ 100 mil. E se teimar com o teste, paga o dobro (valor que seria suficiente para bancar uma startup desenvolvendo tecnologia por alguns bons meses). É claro que há outras questões delicadas nesse debate, como o papel da Huawei e os interesses do governo chinês no desenvolvimento da infraestrutura do 5G no mundo, mas aí o debate é em outros fóruns, muito mais complexos. 

O que várias cidades estão construindo em termos de conectividade depende – e muito – do potencial do 5G para gerar inovação aos cidadãos. Florianópolis, por exemplo, é uma das líderes em disponibilidade de telefonia móvel e sinal de wi-fi do país, como mostra essa reportagem exibida pelo Jornal da Globo nesta semana. 

Há um mês, a operadora TIM e a Fundação Certi, em parceria com a chinesa Huawei, começaram a fazer testes em Florianópolis da tecnologia 5G, antecipando o que só deve chegar aos consumidores a partir de 2021. Trata-se de um projeto piloto em cidades que são referência em inovação e tecnologia no país, como a capital catarinense, a mineira Santa Rita do Sapucaí (conhecido com o Vale da Eletrônica) e a paraibana Campina Grande. 

Não se sabe, até o momento, quantos pássaros morreram e se ainda há sinal de abelhas nestas cidades. Só se sabe que o 5G ainda vai levar um tempo para ser realidade no Brasil e que consultar entidades e especialistas antes de propor projetos de lei punitivos – e até mesmo absurdos, como esse – seria um caminho mais lúcido.

 

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