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Coluna Fabricio Wolff | A terceirização como escapatória
07 de Outubro de 2019

Coluna Fabricio Wolff | A terceirização como escapatória

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Por Fabrício Wolff 07 de Outubro de 2019 | Atualizado 07 de Outubro de 2019

 

Assumir internamente a responsabilidade talvez seja uma das maiores dificuldades do ser humano. É demasiadamente humano terceirizá-las. A “culpa” nunca é sua, minha, nossa. Sempre houve um terceiro agente que errou ou nos levou ao erro. Esta mania quase compulsiva, silenciosa e escondida na mente também comunica: fraqueza. Ao terceirizar suas responsabilidades, especialmente nas decisões mais intrínsecas e cotidianas, o ser humano revela a incapacidade de lidar com suas escolhas que não deram certo. 

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Isto acontece naturalmente, muitas vezes sem a pessoa perceber. É uma maneira psicologicamente confortável de lidar com o insucesso, com as consequências não desejadas de suas escolhas anteriores. Ao mesmo tempo, é uma atitude de fuga que acaba se tornando corriqueira. Muitas vezes a pessoa nem percebe que está sendo traída pelo seu inconsciente. O cérebro, por si só, prega peças. As pessoas facilitam ainda mais essas peças, quando lhes convém. Terceirizar a responsabilidade ameniza a própria culpa, entorpece a alma e cria uma versão da realidade com a qual é possível conviver. 

Outras vezes, no entanto, a terceirização é matreira. Ela busca repassar ou dividir uma responsabilidade que não é dos outros, como forma de criar a ideia de que ela não é responsável por eventual insucesso. Acontece com as pessoas normais, é visível em determinados políticos. Pode-se usar o exemplo de um prefeito que, não dando conta do recado para o cargo para o qual se candidatou e foi eleito, terceiriza a responsabilidades das demandas com deputados, senadores ou governador. Finge esquecer que o eleito é ele e que a responsabilidade é dele. O que vier dos outros, é lucro.

A terceirização, seja produto inconsciente ou ardil matreiro, sempre demonstrará a fraqueza do agente terceirizador. Ele se exime da responsabilidade, esconde-se. Não encara a realidade de frente, sempre por conveniência. Prefere o torpor da desculpa fácil ao enfrentamento do autoconhecimento e da administração do próprio ser. Por uma razão ou por outra, consciente ou inconscientemente, a terceirização das próprias responsabilidades é um dos grandes males sociais, pois não permite que a pessoa se torne melhor, cresça, evolua como ser humano. Mas não se engane: para qualquer interlocutor mais observador, ela comunica fraqueza. Ou da mente, ou do caráter.

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