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Coluna Fabrício Wolff | Caminhoneiros do meu Brasil!
05 de Junho de 2018

Coluna Fabrício Wolff | Caminhoneiros do meu Brasil!

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Por Fabrício Wolff 05 de Junho de 2018 | Atualizado 05 de Junho de 2018

Torna-se quase impossível não falar da greve dos caminhoneiros que parou o Brasil. Nós todos acompanhamos, todos tivemos nossa vida impactada de alguma forma pela falta de combustíveis, todos (ou quase) formamos opinião sobre o assunto. Falar sobre o tema parece quase mais do mesmo. Mas… você já parou para pensar como a comunicação foi importante neste evento, em seus vários aspectos e formas?

Vamos lá!

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Em primeiro lugar, a comunicação pelas redes sociais facilitou em muito a organização dos caminhoneiros. Os argumentos chegavam através delas e conquistavam também a população. Vídeos da mobilização enviados pelo WhatsApp motivavam ainda mais adesões da categoria. De início, conseguiram conquistar a empatia de todos aqueles que estão cansados dos altos preços dos combustíveis e de impostos exorbitantes. A facilidade da proliferação da comunicação nas redes socais catapultou o movimento.

 

A comunicação também deu as cartas nos veículos de comunicação. Com seu trabalho diário, o jornalismo informava sobre o movimento. Com o passar dos dias, tudo que era “festa” passou a ser questionado pelo público, já que a mídia mostrava a paralisação do transporte público e a dificuldade de chegar ao local de trabalho, a falta de escolas paras as crianças, o desabastecimento de produtos hospitalares, das gôndolas de supermercado, do gás de cozinha…

 

O movimento paredista escolheu os jornalistas como “culpados” pelas realidades mostradas. Enquanto “aguardavam” por uma sonhadora e improvável intervenção militar, os amotinados das estradas viram iniciar agressões a colegas caminhoneiros, a pessoas que ocupavam veículos menores e até aos profissionais do jornalismo que cobriam a greve histórica. Do sétimo dia em diante, o movimento começava a se perder porque perdia o apoio popular.

 

Em uma análise bastante simples e direta, pode-se dizer que o movimento dos caminhoneiros cometeu dois erros graves. 

 

Cometeram erro de comunicação: o movimento sem líderes, logo sem organização, confundiu a população, de quem esperava apoio. Primeiro a paralisação tinha como motivo as agruras da profissão, com os altos custos do óleo diesel, baixo valor do frete, custo de manutenção do veículo e pedágios etc. Depois, eram os altos impostos que os brasileiros pagam. Logo em seguida, queriam a derrubada do governo Temer. E, por fim, a intervenção militar. Aí, fica a pergunta: como a população poderia apoiar, como a população poderia seguir quem sequer sabe para onde vai?

Com a confusão de objetivos, perderam a mão da liderança empática do movimento. A própria população que gostaria de apoiá-los, foi se sentindo insegura ao perceber que tais objetivos mudavam a cada momento. Com a escassez de produtos básicos, este apoio naturalmente foi diminuindo. As chances de apoio se perderam de vez quando agressões passaram a fazer parte do movimento.

Outro erro grave cometido pelo movimento foi a total falta de estratégia: ao provocar a escassez de alimentos, remédios e outros gêneros de primeira necessidade a todos, naturalmente perderam o apoio da população. Apesar de corajoso, o movimento foi pouco inteligente. As pessoas tendem ao romantismo de um movimento popular que pressiona as autoridades de qualquer governo, mas retornam rapidamente à realidade quando o resultado passa a atingir diretamente o seu dia a dia, seu bolso e sua família.

 

Talvez se tivessem feito diferente, impedindo o abastecimento de combustível de forma geral, mas sendo flexíveis para manter aquilo que é essencial às pessoas, quem sabe não teriam o apoio desejado?  Quem sabe se houvesse o abastecimento de gêneros alimentícios e de produtos essenciais aos hospitais (oxigênio, sangue etc), o resultado não poderia ser outro?  Mas isso, nunca vamos ter certeza. Muitos corpos na rua sem cabeças pensantes terminam por virar o jogo contra si próprios.

 

As fake news nas redes sociais, especialmente pelo whatsapp (a rede que está mais à mão de todos) mereceria um capítulo à parte. Sua utilização maldosa por pessoas que têm interesse em distorcer a verdade por interesses escusos ou mesmo somente causar pânico e caos, é uma realidade deprimente. Porém, quando essas notícias falsas são repassadas inadvertidamente por muita gente, demonstra que ferramentas tecnológicas nas mãos de pessoas despreparadas para filtrar informações são tão ou mais nocivas do que a maldade dos que criam este estado de coisas.

 

Por fim, um outro tipo de comunicação foi possível verificar. Os governantes receberam o recado de que o brasileiro está, verdadeiramente, de saco cheio. Que não é mais possível ver tanta roubalheira, tantos desmandos (como as vantagens e mordomias distribuídas aos três poderes da República), pagar tantos impostos e receber tão poucos benefícios de volta. Que o poder é mais frágil do que se pensa, afinal bastou uma categoria para parar o país. E que a paciência está se esgotando, está chegando ao fim.

 

É por isso que se pode dizer que a greve dos caminhoneiros foi histórica e houvesse um pouco mais de cérebro (estratégia) naquela coragem toda, talvez tivesse realmente modificado os rumos do país.

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